terça-feira, 24 de outubro de 2017

AOS 87 ANOS, LIMA DUARTE ROUBA A CENA NA ESTREIA DE 'O OUTRO LADO DO PARAÍSO'

                                                               


                                                               
                                                                                   POR SIMONE MAGALHÃES

Meninos, eu vi! Vários problemas na estreia de "O Outro Lado do Paraíso", ontem, 23/10. Mas resolvi escrever sobre o que senti de bom - esperando que haja mudanças na trama e que atraia mais o telespectador. 
Por isso, como sempre, prestei muita atenção em um dos atores que mais me comove. Foram três ou quatro aparições rápidas, mas um dos pouquíssimos pioneiros vivos da TV no Brasil, Lima Duarte, arrasou. Sempre fui interessada em seus personagens. Nas mudanças de caráter, figurinos, prosódia, temperamento, construção dos tipos, timing, enfim, na versatilidade, que só um enorme ator é capaz.
Aos 87 anos, lúcido, forte, e disposto pra outro trabalho, Lima me prendeu, ainda criança, como Egisto Ghirotto, em "Os Ossos do Barão" (1973) - o italiano rico, mas a quem faltava um título de nobreza -, e para sempre com o inesquecível Zeca Diabo, que queria  "aprender a ler e escrever de carreirinha" em "O Bem-Amado" (1973). Um matador com doçura na alma, que só ele poderia fazer sem resvalar no absurdo total. Depois, veio o Caso Especial (que a Globo poderia voltar a produzir!), e o ator arrasou no "Crime do Zé Bigorna", em 1974. Já de terno e gravata, o empresário sisudo Salviano Lisboa, de "Pecado Capital" (1975), ganha em compreensão de vida e de amor com a funcionária de sua fábrica, a apaixonada Lucinha (Betty Faria). Bela trama de Janete Clair.
Mas foram o Sinhozinho Malta, suas pulseiras e bordões, que me atraíram em "Roque Santeiro". Um poderoso coronel,  que não se esquivava de imitar cachorrinho, de quatro no chão, atrás da amada Porcina (Regina Duarte).
Veio o garçom boa gente de "Marrom Glacê", em 1979, e o Raul, de "Champagne" (1983), com quem contracenei, quando fiz figuração, ainda cursando a faculdade. A partir de 1990, já jornalista, cobri "Meu Bem, Meu Mal", com Dom Lázaro Venturini, todo tortinho por causa de um AVC, mas com Lima sempre de bom humor, contando causos e tiradas inteligentes. Cobri também "O Mapa da Mina" (1993) - última trama de seu grande amigo Cassiano Gabus Mendes, de quem dirigiu a primeira novela urbana com diálogos e figurinos da década de 60: "Beto Rockfeller", em 1968.
E vieram tantas tramas, e tão bons papéis que ele chegou a repetir o Senador Vitório Viana, de "Porto dos Milagres" (2001) em "Senhora do Destino" (2004). Asim como o Murilo Pontes, de "Pedra Sobre Pedra" (1992) em "A Indomada" (1997). As quatro de Aguinaldo Silva.
 Após toda essa caminhada, Lima chega ao Josafá Pereira, dono de bar de beira de estrada, no Tocantis. Homem de grande coração, e pouco conhecimento formal ("Aqui a maioria 'preufere' uma 'ceuvejinha'"), mas astúcia pra ninguém botar defeito. E sabe o que não quer: que a vilã Sophia exploda suas terras atrás de esmeraldas. Na verdade, todo o terreno é da neta, já que está no nome de Clara (Bianca Bin). Zeloso, o avô vai lutar com unhas e dentes pelo patrimônio da moça. Mesmo não tendo os ardis da maléfica personagem de Marieta Severo. Será uma luta desigual, mas de titãs.
Um papel denso - a cara de Lima Duarte, que, a caminho dos 90 anos, sempre repete que aposentaria não está nos seus planos. Ariclenes Venâncio, o Lima, não é nordestino (e sim, mineiro), mas é, antes de tudo, um forte, ator imbatível, que honra, há mais de seis séculos a sua arte.

FOTO: DIVULGAÇÃO REDE GLOBO - RAQUEL CUNHA

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