terça-feira, 3 de outubro de 2017

PROGRAMAS DE CULINÁRIA À BASE DE GRITOS E HUMILHAÇÕES



POR SIMONE MAGALHÃES

Cozinhar é um ato de amor. Eu até acreditava nisso. Mas, de uns tempos pra cá,  passei a achar que a frase só vale para vender condimentos industrializados. Na maioria dos programas competitivos  de culinárias há gritos, baixarias, choros, uma pressão absurda para que os pratos sejam feitos com rapidez, e a necessidade de incitar os participantes uns contra os outros. Amor, que é bom, nada.
O chef escocês Gordon Ramsay se esgoela, xinga, fica ruborizado até a alma, expulsa candidatos do 'Hell's Kitchen', humilha os do 'Masterchef - USA' e os do 'Kitchen Nightmares'. Esses achaques e ataques podem ser vistos nos canais TLC e FOX LIFE, em reprises ou episódios que chegam agora ao Brasil. Mas o interessante é observar a doçura - verdadeira - de Ramsay no 'Masterchef Junior'. Faz piadas, tira dúvidas, deixa até as crianças jogarem chantilly nele.                                                                                                                                                                              Ou seja, chef-de-cozinha-apresentador-de-TV tem que ser bom ator também.  Saber fazer tipo.                                                                                                                                                       



Nas entrevistas coletivas para lançamentos dos programas, Henrique Fogaça - o amedrontador ogro dos candidatos do 'Masterchef Brasil', na Band -, é bonachão, simpático.  Assim como Fabrizio Fasano, jurado do 'Bake Off Brasil', no SBT.  Dentro do estúdio, Fogaça grita, tem momentos de fúria, não admite que o participante retruque o que ele fala, e fica repetindo que se o prato não estiver bom o aterrorizado cozinheiro "vai sentar na graxa", ou seja, será eliminado. Os outros jurados da atração são um ponto de equilíbrio. Classuda, Paola Carosella só perde a paciência quando vê que as coisas não vão bem, como nos eventos nos quais os participantes têm que servir muitas pessoas, e se atrapalham. Já o francês Érik Jacquin, com seu português arrevesado, chega a ser engraçado, mas tem lá seus momentos de mau humor e grosseria.
 Já Fasano é o jurado de cara fechada, que pega no pé de todo mundo, e tem sempre uma reclamação em relação aos confeiteiros amadores que participam da atração.  Há doces que, só de olhar, ele diz - com desdém - que prefere não provar. Incomoda ver a insegurança dos concorrentes ao cozinharem: o tempo todo preocupados com o que Fasano vai pensar, vai dizer, vai espinafrar.  Para quebrar um pouco esse clima, a outra jurada é a simpática e solidária confeiteira Beca Milano, um doce.

Ouvindo gritos, correndo contra o relógio, nervosos, cortando a mão quando estão atrasados, ansiosos, pedindo explicações aos oponentes por não terem apoio, fico me perguntando: 'Onde está o ato de amor por cozinhar na TV?'. Talvez por isso tantos talentos desistam, depois dessas experiências que poderiam servir como incentivo. 



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