Rio - É na Boca do Lixo dos anos 70, região central de São Paulo onde se
concentrava parte da produção do cinema brasileiro na época do regime militar,
que se passa a história de ‘Magnífica 70’, nova série que estreia neste domingo,
às 21h, no HBO. Na trama dirigida por Cláudio Torres, o censor da ditadura
Vicente (Marcos Winter), a atriz de pornochanchadas Dora (Simone Spoladore) e o
produtor Manolo (Adriano Garib) vivem um intenso triângulo marcado pela
obsessão.
“Eu vivi essa época. Era uma loucura! Quando comecei no teatro, em
meados de 1984, eu pegava as velhinhas da censura em casa e as levava para ver
as peças antes de estrear”, conta Marcos Winter, de 48 anos, ao DIA. “A
Boca do Lixo não fazia só filmes de pornochanchada. Havia outros gêneros, como
as comédias, os do Zé do Caixão...”, emenda.
Casado com Isabel (Maria Luisa Mendonça), filha de um general, Vicente
leva uma vida acomodada, escrevendo relatórios e classificando filmes para a
censura. Após assistir ao longa ‘A Devassa da Estudante’, ele acaba se
apaixonando pela protagonista, Dora, e vai parar na produtora Magnífica, onde
começa a escrever e a dirigir pornochanchadas.
“Ele foi criado para ser manso, politicamente engajado. Quando é preso
durante uma manifestação por ajudar uma mulher, o pai pede ajuda a um general
para tirá-lo da cadeia. Em troca, o militar faz com que ele se case com a filha
solteirona”, adianta o ator. “Ele é quase um anti-herói”, define.
O censor conhece Dora e Manolo quando os dois vão ao escritório para
tentar liberar um filme. Sensibilizado com o drama dos dois, que estão quase
falidos na produtora, Vicente reescreve uma cena e, depois disso, passa a levar
uma vida dupla.
“O filme de Dora o remete a uma tragédia do passado, com a cunhada dele,
uma ninfeta que o atentava. Ajudar os dois é uma forma de se redimir, de não
carregar mais essa culpa”, conta Marcos.
Sem ter vivido aquela época, Simone Spoladore, de 35 anos, revela que buscou
referências assistindo a clássicos do gênero, como ‘Escola Penal de Meninas
Violentadas’ (1977) e ‘A Super Fêmea’ (1973), com Vera Fischer. Sua personagem
é uma golpista que age com o irmão, Dario (Pierre Baitelli), um ex-presidiário
que tem dívidas com outros bandidos.
“Dora entra na produtora para roubar o dinheiro e tentar ajudar o irmão,
mas acaba se apaixonando pelo cinema. Ela descobre que tem alma de artista”,
diz a atriz, acrescentando: “A relação com o Vicente passa por essa descoberta
artística. É uma paixão com esse viés, tem uma química, uma parceria entre
atriz e diretor.”
Com 13 episódios, de uma hora de duração cada um, a série mostra várias
cenas de nudez. O que não é problema para Simone. “Para mim, é natural, faz
parte do trabalho, já fiz cenas assim em filme”, garante a atriz. “A nudez não
era tão evidente, existe na medida do que é permitido mostrar.”
Marcos Winter ressalta que, nos anos 70, a nudez tinha um impacto que
hoje não tem. “Não era comum ver um peitinho ou uma bunda como nas novelas
atuais. Os jovens não tinham uma vida sexual tão ativa como hoje em dia”, diz.
Publicado em
23/05/2015 – O DIA
Excelente artigo. Podemos ver uma homenagem ao cinema brasileiro na série Magnifica 70, o que nos coloca precisamente na década de 70 em São Paulo, em um momento difícil para o país com uma ditadura militar e filme censurado, onde ele não poderia falar sobre a sexualidade ou crítica governo. Na série, o protagonista, Vincent, trabalha dando relatórios têm de censurar filmes. Admiração e fascínio por um protagonista desses filmes leva a Boca de Lixio para trabalhar como director no lindo produtor de cinema cinematográfica, uma atmosfera de desejo e proibição.
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