sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Egos de estilistas famosos comprometem atuação de iniciantes, na estreia de 'Desafio Brasil Fashion'

    Alexandre Herchcovitch, Lino Villaventura e Ronaldo Fraga: coaches no Lifetime

POR SIMONE MAGALHÃES
 Começou a estação da competição de renomados estilistas brasileiros. Ou melhor, dos aprendizes, que têm como coaches  Alexandre Herchcovitch, Lino Villaventura e Ronaldo Fraga , no programa 'Desafio Brasil Fashion', exibido no canal a cabo Lifetime. Na estreia da atração, os veteranos mostraram que não têm papas na língua. São diretos, retos e até indelicados ao comentarem os temas escolhidos pelos nove pupilos. Não teve salvação: todos tinham um - ou vários problemas - na concepção, nos croquis, nas cores, nos estilos... Parecia que a disputa pelos melhores looks eram dos figurões brasileiros da moda, que imprimiam suas ideias aos modelos dos candidatos.
A ideia do programa é quase - eu disse quase - uma clonagem do 'Project Runway', no qual os participantes criam e costuram suas roupas, desfiladas por modelos profissionais diante de juízes, que entendem do riscado e explicam os erros e acertos aos jovens. No 'Desafio' brasileiro foram escolhidos designers de nove estados diferentes. Cada um com sua concepção, e apoio total do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) - um dos maiores nomes quando o assunto é moda. Eles tinham 20 a 30 dias para a realização de três looks, e apresentação na passarela. Para toda essa façanha recebiam R$ 5mil de ajuda.
No primeiro episódio vimos a insegura estudante de moda Amanda, do Paraná, querendo mesclar o universo de suas antepassadas alemã e ucraniana, em vestidos com muitos bordados, sobre um tecido branco. Ronaldo Fraga não gostou do croqui que a moça apresentou, disse que ele poderia ter emocionado muito mais. Fraga mandou que ela mergulhasse profundamente na cultura ucraniana e, depois, aceitasse as alterações conceituais dele. Na reta final, com Amanda já bem estressada, foi um tal de muda aqui, diminui ou aumenta ali, borda pérolas - e tira pérolas - acolá. A estudante ficou aliviada com o término de seu desfile, que incluiu um look longo, outro midi, e um conjunto de short e blusa. Mas era nítido que, depois de tantas mudanças, o esforço feito não se refletiu na passarela.
Assim como o do carioca Michel, cuja inspiração no croqui era uma roupa baseada em Oxum, exuberância e estilo barroco, com muito azul, mangas largas e brilhos.                                            Pausa para o comentário Herchovitch sobre o programa: "São temas riquíssimos, mas quando vou ver a forma... tem ali na esquina".
Lino Villaventura provocou Michel para que usasse peças masculinas nas modelos. O rapaz acabou mudando toda sua estratégia, desenhou e confeccionou no Senai seu próprio tecido, e se jogou nos modelitos inspirado na arte barroca, com muitas, muitas camadas. Durante as provas, nas modelos, Lino não gostou, queria mais ousadia - "Não adianta uma estampa incrível, se o trabalho está muito normal", reclamou. Mandou Michel desconstruir as peças, alegando que uma blusa estava "bem pobrezinha", com uma sobreposição que parecia "um colete anos 70". Michel disse que Lino virou a vida dele de cabeça pra baixo. Mas chegou a hora da passarela, e mais um sentimento de alívio quando as modelos desfilaram. Sem a opulência de Oxum, muita camada e pouca beleza.
 E chegou  André, um gaúcho que mora em São Paulo, com uma aproximação maior da moda. Aos 38 anos, queria apostar em superposições com tecidos trabalhados em preto e branco, sobre transparências.  Herchcovitch demonstrou um certo interesse pela apresentação das ideias de André. Mas queria ver como ficaria a forma tridimensional. E lá foi André para o Senai fazer experiências com as padronagens dos tecidos, que o deixaram frustrado. Pressionado, não conseguia acertar o ponto. O candidato a estilista decide, então, produzir seus looks inspirados nas vestes dos padres jesuítas (!). É esperar os próximos episódios para ver. De antemão: Medo!
Enquanto isso, surge Sabrina, vinda de Santa Catarina. Ela apresenta a Lino um croqui com modelos inspirados na "mistura das raízes brasileiras". "O trabalho ficou bem geométrico, mas pode ser bem melhor. Sempre pode", respondeu ele.
 Acho que o interessante em programas na linha do 'Project Runway' é a criatividade de quem participa. É mostrar o que pensa, sente e põe em prática (com alguns pitacos do 'guru de estilo' Tim Gunn, mas nada de imposição). Só que, pelo visto, a criatividade do candidato do 'Desafio Brasil Fashion' acaba se adequando aos conceitos impostos pelos coaches. Ou seja, na fogueira das vaidades, quem sai chamuscada é a coleção do novato.
Quem venham novos talentos, e não clones dos famosos.

FOTO: DIVULGAÇÃO/LIFETIME

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