sexta-feira, 8 de setembro de 2017

QUANDO SEREMOS INDEPENDENTES?


POR SIMONE MAGALHÃES

Desde crianças nos ensinam as datas simbólicas do nosso País. E a importância delas. Eu sempre tive uma quedinha pelo 7 de setembro. Além do ato de bravura de um príncipe ao resgatar o que sempre foi nosso, mas que, na verdade, nunca foi, lembro-me das idas às paradas do Dia da Independência, no Centro do Rio. Era um passeio cheio de pompa. E o único que, durante o ano, eu fazia sozinha com meu pai. Tanto que ele, muitas vezes,  brincava comigo me chamando de "parada". Meu pai... Um homem de poucas letras, de muita fé no Brasil, com amigos mais velhos que haviam sido expedicionários, tinha orgulho de todo aquele aparato, numa época complicada - anos 1970 -, sobre a qual ele não sabia absolutamente nada, não apenas pela falta de cultura formal, mas pela dedicação integral ao trabalho e à família.
Nas redações no colégio, que vieram depois, quase sempre havia "Brasil, um país emergente'', "que caminha a passos largos", "cabe a nós, crianças, escrevermos o futuro dessa nação" e por aí ia. Mas nunca fomos.
Meu pai, dono de uma pequena alfaiataria, trabalhou no corte e na costura por mais de 50 anos, e conseguiu nos dar conforto, um apartamento e formar duas filhas em faculdades. Mas já não acreditava naquele Brasil das paradas da Avenida Presidente Vargas. E, quando mais precisou, resmungava muito sobre como a contribuição de uma vida inteira à Previdência Social só permitiu que ele sobrevivesse. A essa altura minha fé pela "grandeza" do Brasil já tinha sido transferida para o filho, que eu viria a ter muitos anos depois. Mas tudo foi se dissipando.
Mesmo assim, sem emprego e decepcionada com cada perversidade que vejo/leio todos os dias, me peguei emocionada - como em 1972, no filme "Independência ou Morte", com Tarcísio Meira - ao ver a cena de Caio Castro, em "Novo Mundo", e rememoro o que imaginei para este País e para os milhões de brasileiros honestos, que hoje (sobre)vivem à míngua.
E o que temos 195 anos depois? Nenhuma independência. Somos reféns de golpistas, ladrões, planos maquiavélicos, violências absurdas e toda sorte de desgraças. Nunca fui uma Pollyanna, pelo contrário, mas esperava que o futuro nos trouxesse o básico: comida, emprego, segurança, educação, saúde pública, dinheiro para quem trabalha por ele... Sobrou-nos apenas - infelizmente, nem a todos - a dignidade e a fé. E a pergunta: Quando seremos independentes?

FOTOS: DIVULGAÇÃO REDE GLOBO E REPRODUÇÃO

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