segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O MULTIFACETADO NEY LATORRACA BRILHA EM 'NOVO MUNDO'


                                                                                          POR SIMONE MAGALHÃES

Lutando contra problemas de saúde que, vira e mexe, insistem em tirá-lo de cena por algum tempo, Ney Latorraca venceu mais um, e agora mostra seu brilho nos últimos capítulos de 'Novo Mundo', como Edward Millman, pai de Anna (Isabelle Drummond).  Três anos depois de 'Meu Pedacinho de Chão', ele volta às novelas em participação especialíssima num papel de época, dramático, comovente. Mais uma reinvenção desse ator multifacetado. 

Ney Latorraca é um dos mais completos e bem-humorados atores que já conheci. A lembrança mais antiga que tenho é o personagem Felipe, de 'Escalada' (1975), sua estreia na Globo. Era um dândi, apaixonado pela professora de piano Fernanda (Nathalia Timberg). Posso dizer que foi um papel interessante, só que pequeno para o talento dele - como eu compararia depois.  E esse 'depois' veio logo: no ano seguinte. Não acredito em coincidências, mas na trilha sonora de 'Escalada' - quando a história de Lauro César Muniz chegava aos anos 1960 - ouvíamos "Stupid Cupid", com Neil Sedaka. E a primeira explosão de Ney na emissora foi justamente em 'Estúpido Cupido' (1976), de Mário Prata. Excepcional era o mínimo que poderia definir o seu Mederiques. Apesar de estar com 32 anos, ele passava uma verdade incrível no papel de bad boy, que já tinha repetido 200 vezes o Científico (hoje, Ensino Médio) e comandava sua "turma", os Personélits Bóis, na interiorana Albuquerque. Confesso: era uma pré-adolescente que perdia qualquer festa, qualquer evento, para ver 'Estúpido Cupido'. Lembro-me de estar de férias, com amigas e meus pais, na casa de praia deles, e não sair para poder assistir ao último capítulo da trama numa TV que vivia de chacoalhões e trocas de lugar da antena - mas vi tudinho!!! (risos) 
Outras interpretações maravilhosas de Latorraca, em novelas e minisséries vieram. Até chegar  à dobradinha 'Anarquistas, Graças a Deus' e 'Rabo de Saia", em 1984 - Seu Quequé era tudo de muito bom! No ano seguinte, ele se multiplicou, literalmente, interpretando cinco personagens em Um Sonho a Mais (1985), trama que acabou virando uma miscelânea, mas sempre lembrada pelo talento do protagonista. E quando a gente pensava que ele já estava no auge, veio o Barboooosa, da TV Pirata, em 1988. Quem, naquela época, nunca repetiu para alguém esquecido ou 'meio lesado' a expressão: "Barboooosa"? 
E, aí, Ney se reinventou mais uma vez: virou vampiro em 'Vamp' (1991), novela que cobri como jornalista. Foi uma delícia! Sempre aliei trabalho a prazer, mas em Vamp foi sensacional. As tiradas de Ney, dentro e fora do set, eram impagáveis. E o elenco funcionava por música. Naquele ano, ele foi nosso Papai Noel vampiro na capa da Revista da TV, de O Globo, numa foto linda de Claudia Dantas. Mas pra fazer a foto... Rimos muito antes, durante e depois.  Lembro-me de que em uma das vezes que estava cobrindo as férias de Patrícia Andrade, colunista da 'Controle Remoto', precisava de uma última nota. Ney estava bombando naquele momento. Liguei para ele e expliquei a situação: "Não vou tomar seu tempo... É só uma notinha...". Ele, com aquela voz tão peculiar: "Minha querida, já estou me acomodando pra ficar horas ao telefone. É sempre assim comigo: dizem que é notinha, mas acabo virando matéria de capa" e soltou uma risada à la Latorraca.  
E mais outros tipos interessante vieram...  Até 2010, quando fiz minha última entrevista grande com Ney. Era sobre o doutor Solano de 'S.O.S. Emergência'. Não sei se porque ele não estava com a saúde cem por cento ou se pelo tema 'hospital' - apesar de ser um seriado com tom humorístico - acabamos conversando muito sobre velhice e morte. E ele me contou que já tinha tudo esquematizado: um testamento no qual dividia seus bens para instituições benemerentes e hospitalares. Acho que foi a conversa mais séria que tive com ele. Mesmo assim, depois voltamos a nos encontrar em lançamentos, eventos, e sempre tinha uma piada pronta, às vezes irônica, às vezes ferina, mas sem criar qualquer constrangimento. E tratando os jornalistas com o maior respeito e dedicação. Atitude cada vez mais difícil nos dias de hoje, quando até em lançamento de novela uma assessora de ator menos votado, pega o crachá pendurado no pescoço do repórter e aproxima do rosto dela para saber se o veículo no qual ele trabalha vale a pena para seu assessorado.                         
Ah, Ney... Se todos fossem iguais a você! 
E olha que eu ia só registrar a linda participação dele em 'Novo Mundo'... E não é que virou textão? Tinha que ser.

FOTOS: REPRODUÇÃO

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