Rio - A primeira semana de ‘Babilônia’, a nova novela das
nove da Globo, enfrentou problemas de audiência. Depois de estrear com 33
pontos, a trama escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes
Braga marcou apenas 26 de média na última sexta-feira e caiu para 23 no sábado.
Apesar da aprovação de uma parcela do público nas redes sociais, o folhetim vem
recebendo críticas dos evangélicos e de grupos mais conservadores, que
rejeitaram o beijo gay e consideram que a história destrói valores da
família.
O diretor e produtor de TV Nelson Hoineff, presidente do
Instituto de Estudos de Televisão, não acredita que o boicote convocado por
evangélicos seja suficiente para derrubar a audiência da trama. Segundo ele, há
outras hipóteses a se considerar para o fenômeno, como o sentimento de órfão do
público em relação à novela antecessora, ‘Império’, de Aguinaldo Silva, que
apresentou um protagonista amado como o Comendador José Alfredo (Alexandre
Nero), mesmo ele tendo atitudes de vilão. Some-se a isso a reprise, às 21h15,
de ‘Carrossel’, do SBT, que vem marcando surpreendentes 13 pontos. A emissora
de Silvio Santos vem alardeando que a trama “valoriza a família brasileira”.
Para Hoineff, é natural que ‘Babilônia’ enfrente uma
“ressaca” na primeira semana. “Já vi outras novelas estrearem bem, caírem e
depois a audiência voltar a subir. Assim como outras que começam mal e depois
recuperam”, diz.
Curiosamente, os mesmos evangélicos que se incomodaram tanto com o beijo gay
entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg e os amantes da
vilã Beatriz (Gloria Pires) não citaram outras cenas que causaram impacto
semelhante, como por exemplo, a vilã assassinar o motorista ou a ambiciosa Inês
(Adriana Esteves) estapear a filha, Alice (Sophie Charlotte), que acabou
perdendo o bebê. Na quinta-feira passada, a Frente Parlamentar Evangélica do
Congresso Nacional endureceu o tom ao divulgar nota repudiando o beijo gay e
convocando os evangélicos e “todos os cristãos” a não assistirem à novela.
Nelson Hoineff estranha o fato de uma bancada política se
interessar tanto por questões ligadas à ficção. “É preocupante qualquer tipo de
fundamentalismo, e que isso se espalhe pela sociedade. Com tantos problemas no
país, acho que a bancada evangélica prestaria um bem maior ao país se
boicotasse, por exemplo, os políticos corruptos e as empresas que participam de
negociatas”, diz.
‘Babilônia’ vem registrando índices de audiência inferiores
até aos de ‘Em Família’, de Manoel Carlos, que teve o pior desempenho no
horário nos últimos anos. Se comparada à sua antecessora, ‘Império’, a nova
trama das nove também sai perdendo em números. A trama de Aguinaldo Silva
estreou com 32 de média, mas ainda na primeira semana apresentou crescimento de
até três pontos.
Apesar de tudo, Nelson Hoineff não acredita que a baixa
audiência vá influenciar negativamente os anunciantes no horário da novela. “Se
fosse o departamento comercial da Globo, não me preocuparia. A emissora sabe
encarar esse tipo de problema. Daqui a uns dois meses, os números serão
outros”, prevê.
Publicada em 24/03/2015 - O DIA
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